MEU
CAJUEIRO
Texto
de Humberto de Campos
"Aos treze anos da
minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu.
Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a
casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco,
aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa
corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os
primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas
de crianças com frio.
- Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: "Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças..." "Ao ler a carta de minha mãe, choro sozinho, choro pela delicadeza de sua ideia e choro sobretudo com inveja do meu cajueiro, por que não tivera eu também raízes para jamais afastar-me dele, em que havíamos crescidos juntos, em que eu ignorava que havíamos sido felizes".
- Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: "Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças..." "Ao ler a carta de minha mãe, choro sozinho, choro pela delicadeza de sua ideia e choro sobretudo com inveja do meu cajueiro, por que não tivera eu também raízes para jamais afastar-me dele, em que havíamos crescidos juntos, em que eu ignorava que havíamos sido felizes".
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Há
um Cajueiro ao lado do estacionamento, no prédio da Faculdade de
Educação, na Unicamp. Não sei se as pessoas que passam por ali,
diariamente, o reconhecem. Ele está entre outras plantas, árvores
diversas, frutíferas e ornamentais.
Comigo,
foi amor à primeira vista, logo que o identifiquei entre as tantas
árvores daquele espaço. Isso já vem há alguns anos e sempre
dedico um tempo a olhá-lo detalhadamente. Um observador atento
perceberia que lanço um olhar de ternura a ele: o seu tronco, as
suas folhas, as suas cores...
Também
a minha relação com o texto é muito especial: ele fez parte das
minhas leituras de adolescente e eu lembro que o li muitas vezes, que
até o sabia 'decor'.
Eu incorporava aquela tristeza da despedida e me emocionava com a
generosa oferta dos doces feitos com o caju que ele produzira...e
confesso que ainda me emociono... Entretanto e curiosamente, eu nunca
havia visto, ao vivo, as flores de um cajueiro.
Hoje, qual não foi a
minha surpresa... eu vi que ele está carregado de flores, como essas
que o poeta descreve: 'cachos de flores miúdas e arroxeadas como
pequeninas unhas de crianças com frio'. Examinei-as, cuidadosamente,
pra conferir se a imagem que construí na adolescência, correspondia
à realidade.
E
não é que parecem mesmo!!
A imagem postada não
corresponde às flores do cajueiro da Unicamp, mas fico devendo e
ainda vou trazer fotos dele e postar aqui.
O
cajueiro de Humberto de Campos, plantado pelo poeta na sua infância,
ainda é vivo e tem mais de 100 anos.
Um amigo de Infância - Humberto de Campos
Veras nasceu em Miritiba (atual Humberto de Campos) MA em 25 de
Outubro de 1886.http://www.aliancaabc.org/humbertodecampos.htm
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